20.3.22

Leituras sobre a guerra e a nova censura III

 Do Facebook de António Pinho Vargas (músico, compositor) no dia 18 de Março:

https://www.facebook.com/antoniopinhovargas/posts/1022703927099765

«Zelenskii percebeu muito bem que no ocidente se comunica no Facebook, no YouTube e se governa por tweets desde Trump. Tudo no modo de expressão ou na 'estética' do video-clip. 
Frases curtas, fáceis de reproduzir e memorizar. Palavras de ordem como soundbytes. No cenário real da terrivel guerra na Ucrânia, a 'estética' que adoptou permite que venha à memória todo o cinema-catástrofe de Hollywood. 
Diz-se que há uma enorme quantidade de pessoas na Ucrânia a trabalhar na produção de videos e na sua disseminação nas redes. Comparada com esta sofisticação, a comunicação de Putin ou Xi Jinping parece pré-moderna. Putin usa parcialmente idênticos quase-tweets, alguns slogans tão fáceis de enunciar como fáceis de desprezar nos media ocidentais. No entanto a encenação kitsch das cenas do Kremlin foi patente. A grande distância entre o czar e os seus súbditos parece inspirada mais pela mesa de jantar do palácio de Citizen Kane de Orson Welles do que por Ivan, o terrível de Eisenstein. Do lado americano - o vulto escondido por trás do arbusto, como disse o outro - há igualmente uma redução do discurso político aos tweets. A frase “we’ll defend every inch of our alliance” dita por Biden, repetida por Kamala Harris, por Blinken e pelo secretário geral da NATO inúmeras vezes tornou-se insuportável pela sua rígida fixidez e pela articulação mal disfarçada entre todos. E contrasta de modo espetacular com o herói no teatro da guerra, no teatro das operações. Há muitas décadas que não havia no imaginário ocidental nenhum "actor" no terreno de guerra tão convincente como Zelenskii. Sabemos, para além de toda a propaganda, que arrisca a vida.Ouvi-lo e vê-lo com farda ou camisa verde a falar online no Congresso dos EUA para uma quantidade de gente de fato e gravata ou vestidos coloridos, é um retrato da ausência de heróis que o ocidente talvez sinta, o vazio que Zelenskii veio preencher. Tudo isto mostra um vídeo-mundo, um audio-mundo que as televisões tornaram global. Existe um certo grau de desconforto perceptivo entre a retórica bélica das palavras dos dirigentes ocidentais e o carácter ao mesmo tempo autêntico e manipulado, simultaneamente real e Hollywoodesco, dos clips de Zelenskii. Há uma guerra e nas guerras a propaganda tem sempre um papel crucial pelo menos desde Hitler e Churchill (na rádio).Tudo nos é dado a ver num pacote comunicacional produzido com fragmentos do real, sendo que o real e a sua mediação comunicacional se misturam e confundem de forma difícil de descortinar: há o real e uma representação do real praticamente no mesmo plano. Talvez se esteja a assistir a uma transformação radical das regras e da realidade política do mundo.Resta como maior desgraça a realidade dos milhões de refugiados e dos mortos, ucranianos e russos. Até ver não há outros.»

Leituras sobre a guerra e a nova censura II

 A hipocrisia dos estados da NATO e a subserviência dos mainstream media leva-nos a acreditar em mensagens propagandísticas univocas.

Por isso aqui partilho outra informação e opinião sobre o conflito.

Raquel Varela, no jornal i: «Guerra na Europa, o que fazer»

https://ionline.sapo.pt/artigo/765162/guerra-na-europa-o-que-fazer-?seccao=Opiniao_i

Excertos:

«Generais do Exército em Portugal, e diplomatas pró-NATO (o próprio ex-ministro Azeredo Lopes) chamaram publicamente a atenção para a caixa de pandora que se abre com o armamento destas milícias extremistas. Porque não estão sob a alçada do direito internacional e podem cometer todo o tipo de atrocidades, estão fora da lei. Noutras guerras, no passado mais ou menos recente, isso deu origem a grande parte dos grupos terroristas que atacaram civis indiscriminadamente na Europa, nos EUA e no resto do mundo.»

«O fascismo não é uma corrente de opinião, nem um corpo de ideias – é o culto, organizado, da morte, através de milícias. Desde a revolução italiana de 1919-20, os Estados democráticos convivem mais ou menos com estes grupos fascistas consoante lhes são úteis para combater greves e revoluções: o princípio maquiavélico de que o “inimigo do meu inimigo é meu amigo”. A vida é mais complexa. Em diplomacia, a linguagem dos Estados, todos os amigos são falsos e todos os inimigos reais. A comparação destes mercenários com a esquerda militante que se bateu na guerra civil espanhola é patética. »


 

«E o que faremos aos ucranianos que estão contra Putin, mas não apoiam o Governo de Zelensky, nem a guerra, que querem paz e que temem os grupos armados que se instalaram no seu país? Chamamos-lhes “cobardes” e apelamos à “pátria”? É que esse tem sido o mediático discurso patriótico e viril. A mesma pergunta tem de ser feita para o Exército e a população russas: quem de facto apoia esta guerra na Rússia? É por isso que ver cidadãos europeus a pedir o cancelamento da cultura russa, animados de extremismo russófobo, deve envergonhar-nos.»

«O que tem o Estado russo a oferecer aos Ucranianos? A mesma “terapia de choque” que ofereceu aos seus cidadãos russos, com reformas neoliberais brutais (quando Putin e o Ocidente apertavam as mãos a aplicá-las) e censura e bonapartismo. Neoliberalismo sob ocupação: eis o significado da “libertação do nazismo” que Putin oferece. E na Ucrânia? Não há um “povo em armas”.

Primeiro, antes da guerra, com as reformas do FMI que Zelensky apoiou, houve migração económica em massa para a Europa Ocidental e para a própria Rússia, 8 milhões ficaram sem terra onde possam trabalhar e viver. Agora são bombardeados pela Rússia, com uma “resistência” neonazi a defendê-los e um governo que apela a uma guerra mundial. Este é o triste cenário que temos pela frente.»

«Quem organiza a guerra são os Estados-nação e os negócios em torno destes. Quem morre nas guerras em nome dos Estados-nação são as classes trabalhadoras. As sanções são um garrote que não atinge os ricos, mas devasta quem vive do trabalho. Os Estados continuarão a fazer guerras e a anunciada remilitarização da Europa não nos trará paz, nem defesa contra os “russos”. Os líderes europeus, da Ucrânia e da Rússia afirmam-se como organizadores de derrotas históricas, trouxeram-nos até aqui, e querem culpar-se mutuamente por este desastre humano que é a vida em pleno século XXI. »

Leituras sobre a guerra e a nova censura I

 Hoje em dia, para nos mantermos informados há, sobretudo, que fazer um gesto: desligar a televisão. E procurar informação que não provenha do «Ministério da Verdade». Aqui vos deixo leituras outras para a crise actual (com a colaboração de alguns amigos):

1.«Torquemadas do Pensamento» de José Goulão (Associação Abril/Abril)

https://www.abrilabril.pt/internacional/torquemadas-do-pensamento

Alguns excertos:

«Porém, o poder avassalador com que caiu sobre nós o surto de propaganda de guerra representa um salto qualitativo no processo de controlo do pensamento dos cidadãos, como que remetendo os «dissidentes», aqueles que habitualmente usam a capacidade de crítica perante os conceitos dominantes, para a categoria dos potenciais autores de delitos de opinião, criminosos passíveis de ser encarados como seres desprezíveis, traidores, até mesmo alvos de perseguições. Uma abordagem tão intensa como esta vem reforçar de maneira trituradora os ensaios autoritários e de extermínio dos mecanismos democráticos realizados durante as fases mais agudas da pandemia de Covid-19»

«Assim sendo, acha o leitor que a guerra tem a ver com o cerco da Rússia pela NATO, o mais poderoso exército do mundo e que vê em Moscovo o seu principal inimigo? Ou com o facto de a entrada da Ucrânia na NATO apertar esse cerco, encurralando ainda mais o território russo? Ou com a ameaça do presidente ucraniano de que poderá voltar a dotar o país com armas nucleares? Ou com o massacre das populações russas do Leste pelas forças militares ucranianas e que já dura há oito anos? Ou com o facto, amplamente comprovado, de que o Estado ucraniano e as suas forças militares assentam em organizações nazis apoiadas pela NATO e que têm como objectivo «acabar com a russificação» da população do país, pobre eufemismo para limpeza étnica? Ou com a rejeição prática de acordos de paz (Acordos de Minsk) pelas autoridades de Kiev com a cumplicidade da Alemanha e da França? Ou ainda com a lei sobre «os povos autóctones» promulgada pelo presidente Zelensky há menos de um ano, instituindo um sistema de apartheid de direitos, liberdades e garantias entre as populações ucranianas de origem escandinava e as comunidades eslavas, consideradas em linguagem comum como «os pretos da neve»?»

«Pois o leitor está proibido de achar qualquer coisa deste género; nem dizê-lo; e o mais seguro é mesmo não pensar porque incorre no crime de violação da opinião única estabelecida pelos dirigentes dos Estados Unidos e dos seus satélites da União Europeia, fiscalizada através de uma comunicação social sem dúvidas e que nunca se engana. Como nos idos tempos de Salazar, que julgávamos ultrapassados de vez, quem não está connosco está contra nós, neste caso a favor do déspota Putin.»

«Em 8 de Março, conforme testemunha a agência Getty Images, a NATO celebrou o Dia Internacional da Mulher fazendo circular, evocando todas as mulheres do mundo, a imagem de uma terrorista do batalhão nazi ucraniano Azov exibindo na farda o símbolo do grupo, um sol negro, oriundo do ocultismo nazi alemão e que resulta da sobreposição de três cruzes suásticas.

 


 

Para a Aliança Atlântica a mulher nazi representa uma «combatente da liberdade», tal como os ucranianos do Leste, resistentes à limpeza étnica, são «terroristas». Ao mesmo nível, por certo, dos «terroristas» palestinianos que resistem à matança, ao apartheid e ao confisco das suas terras.»

«Os governantes europeus – os norte-americanos nem se dão a esse trabalho – e a comunicação social amestrada pretendem minimizar essas práticas fazendo crer que a presença nazi é insignificante no poder ucraniano.

Isso é totalmente falso e pretende esconder um colaboracionismo europeu e norte-americano com o nazismo para transformarem a Ucrânia numa ponta de lança contra a Rússia, enfraquecendo economicamente este país, isolando-o e tentando impedir que seja um empecilho à estratégia globalista conduzida no quadro do uniteralismo como ordem mundial inquestionável.»

«A União Europeia, que para não receber refugiados financia campos de concentração na Líbia onde, depois de desapossadas dos seus bens, pessoas que fogem das guerras e do colonialismo são torturadas e mesmo assassinadas; que persegue seres humanos à deriva no Mediterrâneo, deixando que milhares deles se afoguem, pois agora essa União Europeia está pronta a receber os refugiados ucranianos, sejam eles quantos forem.

«É sempre mais reconfortante, pelos vistos, acolher gente com boa aparência, de preferência seres louros e de olhos azuis, do que maltrapilhos de pele escura, esfomeados que pretendem viver às custas dos serviços sociais dos países civilizados. Trata-se de injecções de «sangue puro», como dizia o inquisidor Torquemada, seguido depois por Hitler e agora, na Ucrânia, pelo «fuhrer branco», Andriy Biletsky, fundador das milícias Corpo Nacional e depois do Batalhão Azov, cuja obra inspira os acampamentos de crianças que recebem formação nazi e treino militar, e que tem como objectivo «conduzir as raças brancas na cruzada final»».

«A palavra agora para Peter Dobbie, do canal inglês da Al-Jazeera, sobre os refugiados: «O que é convincente é que só de olhar para eles, da maneira como estão vestidos, são pessoas prósperas, de classe média, não são obviamente refugiados tentando fugir de áreas do Médio Oriente que ainda estão em grande estado de guerra; não são pessoas tentando fugir de áreas do Norte de África: parecem-se com qualquer família europeia que seja nossa vizinha...

Guerra é coisa de pobres, de gente a quem a violência militar é levada pelos ricos para que fiquem finalmente civilizados e democratizados. Desde 24 de Fevereiro, início da invasão da Ucrânia pela Rússia, houve mais bombardeamentos aéreos da Arábia Saudita contra o Iémen, com apoio norte-americano, do que de russos sobre o território ucraniano.

Entretanto, Jeremy Bowen, jornalista do modelo de independência e circunspecção que é a BBC, divulgou instruções sobre «onde e como» lançar cocktails Molotov, «um guia para os voluntários ucranianos».

Joseph Pulitzer, grande jornalista norte-americano falecido em 1911, escreveu um dia que «com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica, corrupta formará um público tão vil como ela».»

«O cenário montado a propósito da Ucrânia é exemplar. E ainda há quem se surpreenda com a veloz reactivação de correntes neofascistas e neonazis através da Europa. Pois se os próprios dirigentes da NATO e da União Europeia, proclamados defensores da democracia, lhes dão a mão para defenderem os seus interesses – que não os dos povos dos seus países – fica tudo explicado. Daí que nada haja de escandaloso em vermos em Portugal bandeiras da Juventude Socialista juntas com as do Chega e do Sector de Direita ucraniano em manifestações sobre a Ucrânia. Tal como Borrell e Santos Silva tomam atitudes censórias enquanto sustentam objectivamente o terrorismo do «führer branco» que se prolonga há oito anos.

Nada disto tem a ver com a paz ou a defesa da paz, única maneira de interromper a nova fase do conflito ucraniano aberta com a também criminosa agressão russa. Nesta guerra não há inocentes, a não ser as vítimas civis a Ocidente e Oriente do país, tal como poderá não haver vencedores.»

11.12.21

Os «positivistas»

 Por positivistas não se entenda os filósofos e cientistas do século XIX que apenas acreditavam na evidência empírica – não, não nos referimos a esses mas precisamente aqueles que hoje postulam o contrário!

Os positivistas são aqueles que acham que é positivo, inegável e incontestável tudo o que vem de fonte oficial e é propagado nos main stream media: informação por mais limitada ou mesmo propagandística; medidas por mais discrepantes e contraditórias que sejam (não use máscara/use máscara) e mesmo censura – pois se é para o bem comum podemos vergar as regras, esquecer a liberdade de expressão e de imprensa e mesmo colocar a democracia de lado.

São de direita (CDS e simpatizantes do IL mas também militantes do PSD) mas também de esquerda (PC do tipo «os orgãos do partido é que decidem», socialistas que apoiam incondicionalmente o governo).

Tentam desacreditar cientistas que não estão ao serviço da linha directiva central e da propaganda estatal (o estudo da Universidade de Coimbra que mostrou que após três meses a imunidade da vacina cai abruptamente; o prémio Nobel francês que alertava que durante uma epidemia não se vacina pelo perigo de se aumentar a resistência do vírus e as variantes);  são contra o debate cidadão; tentam transformar ciência em opinião; são a favor da censura dos media (o caso do artigo contra a vacinação infantil apagado do Público) e do controle das redes sociais sobre certos temas (o Facebook «apaga» ou não permite aos amigos ver posts sobre vacinas).

E, claro, chamam negacionistas não aos americanos de estrema direita para quem foi criado o termo (Trump e apaniguados que desvalorizaram a doença no início; Bolsonaro) mas a todos os que ponham as suas opiniões positivas em causa (porque são opiniões, não são factos, não são ciência). Ou as suas crenças, diria mais. Recusam, por exemplo, aceitar os números da DGS que mostram que 80 por cento dos mortos do mês de Outubro estavam totalmente vacinados ou o facto de a maioria dos infectados estarem vacinados (pois não poderia ser de outra forma se 90 por cento da população está vacinada, só se excluindo os dez por cento das crianças abaixo dos 12 anos).

São os positivistas que apelam à discriminação dos não vacinados. Nalguns casos incitam ao ódio ao não vacinado (em número ínfimo em Portugal) que para eles será o disseminador da pandemia (já desmontei essa preconceito com os números: 90 por cento de totalmente vacinados; cerca de dez por cento de crianças abaixo dos 12 resulta num um número irrelevante de não-vacinados). Porquê? Porque o não vacinado desafia o status quo (mesmo que não o faça por questões políticas mas apenas por receio dos efeitos secundários).

 

 

São os positivistas que tentam encontrar bodes espiatórios: os já referidos não vacinados; os que não andam de máscara na rua; os amigos que festejaram o Natal com a família alargada; os vizinhos que fazem festas lá em casa; os jovens que foram para as discotecas; as crianças porque não estão vacinadas (apesar de sabermos o risco que isso representa nesta fase de testagem destas pseudo-vacinas).

Chamam-me a mim negacionista? Só posso rir-me. Negacionista eu que fui das primeiras a dizer «usem máscara» e a fazer máscaras em casa quando a DGS dizia «não usem máscaras, são só para o pessoal de saúde, o cidadão comum não sabe usá-las»; a tentar convencer amigos de que isto não é uma gripezinha, de que tínhamos mesmo de ficar em casa. A mim, que sou pró-vacinas, pró-ciência.

Negacionista porque o meu pedido de debate público e transparência na informação oficial os incomoda….

Os positivistas são as massas que apoiaram Hitler, os portugueses que aguentaram Salazar, os soviéticos que fingiam que não havia gulags. São os cidadãos do futuro distópico que nos aguarda se não nos rebelarmos agora contra a desinformação oficial e a condenação da ciência.

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