Hoje em dia, para nos mantermos informados há, sobretudo, que fazer um gesto: desligar a televisão. E procurar informação que não provenha do «Ministério da Verdade». Aqui vos deixo leituras outras para a crise actual (com a colaboração de alguns amigos):
1.«Torquemadas do Pensamento» de José Goulão (Associação Abril/Abril)
https://www.abrilabril.pt/internacional/torquemadas-do-pensamento
Alguns excertos:
«Porém, o poder avassalador com que caiu sobre nós o surto de propaganda
de guerra representa um salto qualitativo no processo de controlo do
pensamento dos cidadãos, como que remetendo os «dissidentes», aqueles
que habitualmente usam a capacidade de crítica perante os conceitos
dominantes, para a categoria dos potenciais autores de delitos de
opinião, criminosos passíveis de ser encarados como seres desprezíveis,
traidores, até mesmo alvos de perseguições. Uma abordagem tão intensa
como esta vem reforçar de maneira trituradora os ensaios autoritários e
de extermínio dos mecanismos democráticos realizados durante as fases
mais agudas da pandemia de Covid-19»
«Assim sendo, acha o leitor que a guerra tem a ver com o
cerco da Rússia pela NATO, o mais poderoso exército do mundo e que vê em
Moscovo o seu principal inimigo? Ou com o facto de a entrada da Ucrânia na NATO
apertar esse cerco, encurralando ainda mais o território russo? Ou com a ameaça
do presidente ucraniano de que poderá voltar a dotar o país com armas
nucleares? Ou com o massacre das populações russas do Leste pelas forças
militares ucranianas e que já dura há oito anos? Ou com o facto, amplamente
comprovado, de que o Estado ucraniano e as suas forças militares assentam em
organizações nazis apoiadas pela NATO e que têm como objectivo «acabar com a
russificação» da população do país, pobre eufemismo para limpeza étnica? Ou com
a rejeição prática de acordos de paz (Acordos de Minsk) pelas autoridades de
Kiev com a cumplicidade da Alemanha e da França? Ou ainda com a lei sobre «os
povos autóctones» promulgada pelo presidente Zelensky há menos de um ano,
instituindo um sistema de apartheid de direitos, liberdades e garantias entre
as populações ucranianas de origem escandinava e as comunidades eslavas,
consideradas em linguagem comum como «os pretos da neve»?»
«Pois o leitor está proibido de achar qualquer coisa deste
género; nem dizê-lo; e o mais seguro é mesmo não pensar porque incorre no crime
de violação da opinião única estabelecida pelos dirigentes dos Estados Unidos e
dos seus satélites da União Europeia, fiscalizada através de uma comunicação
social sem dúvidas e que nunca se engana. Como nos idos tempos de Salazar, que
julgávamos ultrapassados de vez, quem não está connosco está contra nós, neste
caso a favor do déspota Putin.»
«Em 8 de Março, conforme testemunha a agência Getty Images, a NATO
celebrou o Dia Internacional da Mulher fazendo circular, evocando todas
as mulheres do mundo, a imagem de uma terrorista do batalhão nazi
ucraniano Azov exibindo na farda o símbolo do grupo, um sol negro,
oriundo do ocultismo nazi alemão e que resulta da sobreposição de três
cruzes suásticas.
Para a Aliança Atlântica a mulher nazi
representa uma «combatente da liberdade», tal como os ucranianos do
Leste, resistentes à limpeza étnica, são «terroristas». Ao mesmo nível,
por certo, dos «terroristas» palestinianos que resistem à matança, ao
apartheid e ao confisco das suas terras.»
«Os governantes europeus – os norte-americanos nem se dão a esse
trabalho – e a comunicação social amestrada pretendem minimizar essas
práticas fazendo crer que a presença nazi é insignificante no poder
ucraniano.
Isso é totalmente falso e pretende esconder um
colaboracionismo europeu e norte-americano com o nazismo para
transformarem a Ucrânia numa ponta de lança contra a Rússia,
enfraquecendo economicamente este país, isolando-o e tentando impedir
que seja um empecilho à estratégia globalista conduzida no quadro do
uniteralismo como ordem mundial inquestionável.»
«A União Europeia, que para não receber refugiados financia campos de
concentração na Líbia onde, depois de desapossadas dos seus bens,
pessoas que fogem das guerras e do colonialismo são torturadas e mesmo
assassinadas; que persegue seres humanos à deriva no Mediterrâneo,
deixando que milhares deles se afoguem, pois agora essa União Europeia
está pronta a receber os refugiados ucranianos, sejam eles quantos
forem.
«É sempre mais reconfortante, pelos vistos, acolher gente
com boa aparência, de preferência seres louros e de olhos azuis, do que
maltrapilhos de pele escura, esfomeados que pretendem viver às custas
dos serviços sociais dos países civilizados. Trata-se de injecções de
«sangue puro», como dizia o inquisidor Torquemada, seguido depois por
Hitler e agora, na Ucrânia, pelo «fuhrer branco», Andriy Biletsky,
fundador das milícias Corpo Nacional e depois do Batalhão Azov, cuja obra inspira os acampamentos de crianças que recebem formação nazi e
treino militar, e que tem como objectivo «conduzir as raças brancas na
cruzada final»».
«A palavra agora para Peter Dobbie, do canal inglês da Al-Jazeera, sobre
os refugiados: «O que é convincente é que só de olhar para eles, da
maneira como estão vestidos, são pessoas prósperas, de classe média, não
são obviamente refugiados tentando fugir de áreas do Médio Oriente que
ainda estão em grande estado de guerra; não são pessoas tentando fugir
de áreas do Norte de África: parecem-se com qualquer família europeia
que seja nossa vizinha...
Guerra é coisa de pobres, de gente a quem a violência militar é
levada pelos ricos para que fiquem finalmente civilizados e
democratizados. Desde 24 de Fevereiro, início da invasão da Ucrânia pela
Rússia, houve mais bombardeamentos aéreos da Arábia Saudita contra o
Iémen, com apoio norte-americano, do que de russos sobre o território
ucraniano.
Entretanto, Jeremy Bowen, jornalista do modelo de
independência e circunspecção que é a BBC, divulgou instruções sobre
«onde e como» lançar cocktails Molotov, «um guia para os voluntários
ucranianos».
Joseph Pulitzer, grande jornalista norte-americano
falecido em 1911, escreveu um dia que «com o tempo, uma imprensa cínica,
mercenária, demagógica, corrupta formará um público tão vil como ela».»
«O cenário montado a propósito da Ucrânia é exemplar. E ainda há quem
se surpreenda com a veloz reactivação de correntes neofascistas e
neonazis através da Europa. Pois se os próprios dirigentes da NATO e da
União Europeia, proclamados defensores da democracia, lhes dão a mão
para defenderem os seus interesses – que não os dos povos dos seus
países – fica tudo explicado. Daí que nada haja de escandaloso em vermos
em Portugal bandeiras da Juventude Socialista juntas com as do Chega e
do Sector de Direita ucraniano em manifestações sobre a Ucrânia. Tal
como Borrell e Santos Silva tomam atitudes censórias enquanto sustentam
objectivamente o terrorismo do «führer branco» que se prolonga há oito
anos.
Nada disto tem a ver com a paz ou a defesa da paz, única
maneira de interromper a nova fase do conflito ucraniano aberta com a
também criminosa agressão russa. Nesta guerra não há inocentes, a não
ser as vítimas civis a Ocidente e Oriente do país, tal como poderá não
haver vencedores.»