27.5.06

Invasão australiana

Os australianos invadiram. O Alkatiri, não dá muito jeito a americanos e australianos, sobretudo a sua política em relação ao petróleo. Já se percebeu quem apoia os militares rebeldes... o problema é que pessoas como o Ramos Horta e a primeira Dama ( declarações de Kirsty Sword-Gusmão ao The Australian) deviam estar calados em vez de contradizer o chefe do governo.

Cito aqui um post de 21 de Maio do blog sobre Timor http://timor-online.blogspot.com.

DN: Primeiro-ministro é "demasiado nacionalista" para a Austrália"A Austrália não gosta de Mari Alkatiri." Quem o diz é a académica australiana Helen Hill, retomando o teor de um artigo que esta semana publicou no Timor Post. "Basta ver o que dizem os media australianos para perceber que Camberra pensa que qualquer timorense seria melhor primeiro-ministro que Alkatiri." Professora da Victoria University, uma prestigiada instituição australiana, Helen Hill sabe do que fala, tendo dedicado a sua tese de doutoramento (Stirrings of Nationalism in East Timor) à resistência dos timorenses à ocupação indonésia. "Uma causa que a Austrália nunca apoiou", recorda Helen Hill ao DN, garantindo, no entanto, que a crescente hostilidade australiana perante Alkatiri só é perceptível pela forma como o primeiro-ministro timorense gere o seu próprio país. "Ele é considerado demasiado nacionalista em termos económicos." Uma opinião que, segundo esta investigadora, poderá estar também relacionada com a forma como Alkatiri conseguiu obter um "excelente acordo" para a partilha de petróleo no Mar de Timor. "Ele foi muito inteligente, quando definiu a estratégia e, sobretudo, quando se apoiou na opinião pública australiana para defender os seus argumentos."O que, pelos vistos, Camberra nunca lhe perdoará, e que é ainda agravado pelo facto de Díli insistir no apoio da China para explorar o petróleo que existe em Timor-Leste. Explicando os sucessivos gestos de provocação australianos.Como sucedeu há dias com os quatro navios de guerra que Camberra enviou para águas próximas de Timor-Leste, alegando a hipótese de novos confrontos em torno do congresso da Fretilin. "É óbvio que foi um gesto de intimidação. Mas, creio que interessava também ao primeiro-ministro [John Howard], que ia avistar-se, nessa altura, com o Presidente [George W.] Bush, usar o argumento da instabilidade timorense para não enviar mais tropas australianas para o Iraque." AR

24.5.06

O mar sobe, o leão ruge


As sebes procuram manter a areia, conservar as dunas, na praia do Norte, em Peniche. Todos os anos as praias se tornam mais pequenas em Portugal. Raizes à mostra, areais levados pelas ondas. É apenas a geografia que se altera - mais aqui, menos acolá - dizem os optimistas. Claro que não é nada disso. Derretem os polos, sobe o mar. A velocidade a que o Homem conseguiu alterar o percurso normal da natureza nos últimos cem anos é impressionante. Se a evolução natural não é a favor da sobrevivência da nossa espécie - «el ninos», deslocações do percurso previsto à volta do sol, o eventual meteorito em rota de colisão - a forma como interferimos cria tantas adversidades que talvez precipitemos o fim. Não sei se cá fazemos muita falta e pouco me interessa esse fim moral, o «portaram-se mal, tomem lá a paga».
De qualquer modo ficaremos para último. Primeiro vão os mais fracos... os animais, e isso sim faz-me objecção.
Como será um mundo sem leões? Lembro-me de ver um a dois metros, pachorrento, abrindo a bocarra de tédio de barriga cheia, enquanto me avaliava com o olhar amarelo. Leões 3D, o video do Lion King e algumas reportagens de arquivo do National Geographic farão as vezes do bicho. A diferença nem será notada por quem nunca esteve na natureza ao pé de um (com um guia agarrado ao braço a dizer, «Não saí do carro, está a ouvir!», porque achava que queria puxar os bigodes ao felino da mesma forma que pus a manada de elefantes a fugir porque saltei para a frente do chefe - uma boa foto vale um ataque de nervos de um paquiderme ou a vida do fotógrafo).
O holograma do leão, pelo menos, não morde, diremos nós, então.
As espécies que vierem depois de nós - e dos leões - interessar-se-ão mais pela maneira como as leoas tomavam conta dos filhos umas das outras enquanto os leões papavam os filhos dos outros ou pelas histórias para crianças em que o leão e a zebra iam ao circo de mão dada? Pelo cio das gatas ou pelos poemas eróticos humanos? Se restar vestígio disto...
Às vezes gostava de estar na praia de Peniche e começar a ver o mar subir, subir, derrubar as sebes de canas, submergir as dunas, a península, o Parque Eduardo VII, as Petronas, o Hong Kong Bank, o Monte da Guia em Macau, o belo Empire State Building, os Himalais a Pousada de Maubisse e outros sítios altos onde estive. Deve ser belo presenciar o fim de uma raça, de um mundo.
Não terei a sorte dos meus sobrinhos netos - resta-me, portanto, preparar-me para o meu próprio e solitário fim - com o contentamento, porém, de ter piscado o olho a um leão.